Ning.: Que andas tu aí buscando?
T. Mundo: Mil cousas ando a buscar: delas não posso achar,
porém ando porfiando por quão bom é porfiar.
Ning.: Como hás nome, cavaleiro?
T. Mundo: Eu hei nome Todo o Mundo e meu tempo todo inteiro
sempre é buscar dinheiro
e sempre nisto me fundo.
Ning.: Eu hei nome Ninguém,
e busco a consciência.
Belzebu: Esta é boa experiência:
Dinato, escreve isto bem.
Dinato: Que escreverei, companheiro?
Belzebu: Que Ninguém busca consciência. e Todo o Mundo dinheiro.
Ning.: E agora que buscas lá?
T. Mundo: Busco honra muito grande.
Ning.: E eu virtude, que Deus mande que tope com ela já.
Belzebu: Outra adição nos acude: escreve logo aí, a fundo,
que busca honra Todo o Mundo e Ninguém busca virtude.
Ning.: Buscas outro mor bem qu'esse?
T. Mundo: Busco mais quem me louvasse tudo quanto eu fizesse.
Ning.: E eu quem me repreendesse em cada cousa que errasse.
Belzebu: Escreve mais.
Dinato: Que tens sabido?
Belzebu: Que quer em extremo grado Todo o Mundo ser louvado, e Ninguém ser repreendido.
TODO O MUNDO E NINGUÉM de Gil Vicente
bjosVôaliejavolto!
Nenhum comentário:
Postar um comentário